Sunday, November 22, 2009

"Das conversas sem pressa"

Uma máscara, um perfume, pequenas pistas de luxúria. São duas garotas. Eu e ela. Dentro do táxi, trocamos sorrisos e olhares, típicos da sexta-feira noturna:  como se uma calculasse o grau da perversidade e frieza, movida a mãos sempre quentes e destesmidas, da outra. O frio nas barrigas não passam de uma adrenalina mórbida de quem deseja concretizar planos; não saímos de casa por um propósito qualquer.

Então, a partir de um momento de reflexão advindo do céu estrelado da madrugada carioca, ela se vira pra mim: “Eu queria… queria saber o que você mudaria em relação ao sentimento das pessoas”… E aquilo me deixou encucada. Foi uma curiosidade depositada em mim com tanta profundidade que me senti na responsabilidade de responder algo que a acrescentasse, que disvirtuasse sua insegurança. Mal consegui. Pagamos ao taxista, estávamos na Lapa.

Lapa, liberdade, libertinagem. Circo Voador. Música, teatro, poesia. A poesia tem que prevalecer. Não importa o que nos aconteceu. Se nem a nós cabe descobrir o momento em que fomos tocadas pelo que nos mudou, resta imaginar.

Sem tanta nobreza, no ônibus para casa, ela deita sua cabeça em meu ombro. Não precisamos nos olhar para trocarmos as lembranças do passado recente, nem para concluir que, em relação ao que nos acontece, somos uma só. Então, deito a minha cabeça na dela e sussurro: ” ‘ Pra falar verdade, às vezes minto tentando ser metade do inteiro que eu sinto’ “. E aí ela já sabia; respondeu no silêncio. Ela já sabia que as mentiras podem ser bonitas, e se as são, é porque está tudo bem. Pouco importa se gostam ou não da gente. O que excita é tentar chegar a um desses extremos. E depois trocar de vela. Porque se essa teoria de Vinícius for verdadeira, parece-me mais caloroso ser uma chama forte, instintiva, passional, a ser, por toda vida, branda, quase sem aquecer… chata.

Eu não mudaria nada no sentimento das pessoas.

De manhãzinha, em casa. No silêncio, no escuro, no frio. Ela lá, eu cá. Novamente, não importa. A gente sabia que, naquela noite, descobrimos que a razão tira a prática de sermos um pouco mais de nós. Com uma ajuda do Anitelli.

[Via http://wordscarolinamighthaveate.wordpress.com]

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